Saturday, April 28, 2007

A n a


Era uma vez uma menina. Pequenina. Com umas pestanas grandes. O que a menina mais gostava no Mundo era do Mar. Ela e o Mar eram parecidos. Ela tinha dentro dela algo tão imenso e profundo como o Mar que adorava. Deitava-se à beira-mar, com a areia a queimar-lhe agradavelmente a barriga das pernas. Enterrava os dedos na areia, agarrava-a com força e depois abria um fendazinha, na sua mão fechada e deixava que a areia lhe escorresse entre os dedos, como pó de ouro. Deitava-se a olhar pro Céu, tão azul como o Mar, a atribuír formas de coisas às nuvens e a dar-lhes nomes. Deitava-se na areia a contar segredos às ondas. E gostava dos finais de tarde, em Setembro, quando o Vento quente a envolvia. Não era aquele Vento abrasador de Julho, irrespirável. Era o Vento morno e doce. E a menina imaginava por quantas pessoas já tinha esse vento passado nesse dia. Quantas pessoas já tinham sentido aquele abraço... Imaginava que o Vento levava os sonhos das pessoas. Transportava-os pra mais longe, mais além. E a quantidade de sonhos que ele transportava... tantos! O Vento frio e cortante de Inverno era diferente. Envolvia as pessoas mas não lhes levava os Sonhos. Transportava os medos e receios... E assim, a menina cresceu. Continuou pequenina. As suas pestanas continuaram grandes. E tornou-se vendedora de Sonhos.

Wednesday, April 25, 2007


- Escolhe um sonho. Eu vendo sonhos. Que sonho queres?

- Posso mesmo escolher?
- Sim, escolhe.
- Quero voar.

( processo de venda )

- A minha noite já tem sol. Hoje choveram estrelas falsas no rio.




Tuesday, April 24, 2007

Elogio ao Amor

"O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de
antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".

O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.

Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha.
Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição.
Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe.

Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma.
É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária.
A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.


O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais
bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para
sempre.

Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente.
O coração guarda o que se nos escapa das mãos.
E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.
Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra.
A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um minuto de amor pode durar a vida inteira.
E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso
25 de Abril



A liberdade não tem uma cor.


É de todas.

São os loucos de Lisboa . . .


[12/Abril/07]

Wednesday, April 18, 2007


" Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. "



Thursday, April 12, 2007


Isto há dias preenchidos... !


12/ Abril/ 2007

23h - Cafezinho com o J.

1h - Apanhar o último metro para casa

2h - De pijama, na cama, com o portátil ao colo

3h - Preparar para sair do msn e ir dormir

3h31 - L. começa a dizer " E se eu fosse de Peniche pra Lisboa agora...?"


3h35 - Acordar a Cipri ( 'amiga, o L. vai sair agora de Peniche, vem ter connosco a Lx'
'wroonfre hein?' )

3h40 - Telefonar ao L. : 'Tu nao estás a brincar, pois não?'

4h30 - L. e A. saem de Peniche

5h20 - Dar indicações sobre como chegar a minha casa

5h30 - L. à minha espera à porta do prédio

5h45 - Ir buscar a Cipri a casa

6h10 - Estacionar no Cais do Sodré e deixar dinheiro a menos no parquímetro (para se correr o risco de ser multado)

6h15 - Estação de comboios

6h55 - Apanhar o comboio no sentido Cascais

7h30 - Sair em S. Pedro do Estoril

7h40 - Chegar à praia (deserta!). FRIIIO!

7h45 - L. e eu entramos na água, gelada que até dói, sem um único raio de sol e com uma temperatura estimada em 12º C

8h40 - Sair da praia

8h50 - Comboio pra C.Sodré

9h10 - Chegar ao C.Sodré

9h15 - Chegar ao carro onde não há multa nenhuma.

9h30 - Despedidas, saio no Rato onde tinha uma coisa combinada com a R.

9h55 - A tal coisa combinada.

10h - Tomar o pequeno almoço sozinha numa pastelaria

10h30 - Ir pra faculdade

11h - Não ir à aula de Psicologia

12h - Entrar na aula de Imunologia

12h30 - Sair da aula de Imunologia

12h31 - Ver o Ricardo Araújo Pereira, o Zé Diogo Quintela, o Tiago Dores e o Miguel Góis a apanhar uma seca a dar autógrafos, mesmo ali, dentro da nossa faculdade

12h32 - Comentar com a I. e a C. a inutilidade de um autógrafo

12h33 - Continuar a vê-los dar autógrafos

12h35 - Ouvir Rogério Samora a declamar, ao som de Rodrigo Leão, a tocar ao vivo.

12h40 - Ouvir Mafalda Veiga e João Pedro Pais

12h41 - A mesa de mistura passa-se e insiste em destruir um bocadinho a actuação.

12h50 - Ir embora da faculdade, em direcção a casa.


Landeira, essa cara é toda frio ? :D


Monday, April 9, 2007



" Na Terra dos Sonhos ...



... podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal

Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual

Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar

Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar "



Friday, April 6, 2007



« Porque é que as pessoas sao infelizes?


É simples - responde o velho - Elas estão presas à sua historia pessoal. Toda a gente acredita que o objectivo desta vida é seguir um plano. Ninguém se pergunta se esse plano é seu ou foi criado por outra pessoa. Acumulam-se experiências, coisas, ideias dos outros, que é mais do que conseguem suportar. E, portanto, esquecem os seus sonhos. »

in O Zahir